terça-feira, 17 de abril de 2012

E agora? Quem poderá me defender? O efeito Chapolin na Educação.

Chapolin Colorado é o personagem de uma série da televisão mexicana que muitos de nós conhecemos. Os episódios enfocam as aventuras diárias de um super-herói que contraria o nosso imaginário. Afinal, ele é fraco, feio e medroso. Ao sinal de perigo, os personagens envolvidos na cena repetem o chavão "E agora, quem poderá me defender?". Chapolin, então, entra em cena, normalmente, de forma atrapalhada, respondendo: "Eu!".

Essa cena, guardadas as devidas proporções, repete-se diariamente em nossas vidas. Em nome do “amor”, interferimos de forma excessiva na vida de nossos filhos, que não se dão nem mais ao trabalho de pedir ajuda. Postamo-nos como antenados guardiões do pequeno rei para que nada, nada mesmo, o entristeça. Apressamo-nos em fazer o seu prato ou esquentar o seu pão; quebramos a cabeça por eles nas tarefas escolares; verificamos se o uniforme está limpo e passado; certificamo-nos se ele não esqueceu nada, inclusive o dinheiro para o lanche. Pensamos em tudo, inclusive na mochila. Se ele não dá conta de carregar, vamos até a porta da sala e ali o entregamos. Ufa! Deixamos o nosso filhote na escola com a certeza de que a continuidade desse aparato principesco será assumida pela zelosa professora ou professor. Será?
Essa passagem do privado para o público, de filho para aluno ou do pessoal para o coletivo, pode ser muito problemática. A escola não dará atendimento vip, personalizado ou customizado. Não por ser fria ou desumana, mas, sim, por ter outra função. O lema “gente que forma gente” expressa o compromisso de introduzir a criança ou o jovem no mundo da pólis, da cidade ou da coletividade. Nesse lugar as regras são iguais para todos.
Na escola cada um tem pequenas, mas fundamentais responsabilidades: aguardar a vez de ir ao balanço, servir-se sozinho, dar conta de abrir a própria garrafa de suco, guardar os brinquedos que usou, levantar a mão e aguardar a vez para falar. Um pouco mais crescidos e já terão aprendido que não é educado e honesto fazer uso do grito, do prestígio, do “jeitinho”, da mentira, ou da força física, para serem ouvidos ou levar vantagem.
Não chegar atrasado, não utilizar aparelho celular em sala de aula, não conversar enquanto o outro está falando, não jogar papel no chão, não mexer na mochila do colega etc... Esses e outros “não” compõem o necessário conjunto de normas e regras, criadas para harmonizar as relações. São, de fato, pequenos e indolores exercícios de convivência e, à medida que são praticados, forjam em cada um desses seres um caráter sustentado nos valores de justiça, verdade, equidade e cooperação.
Nas situações desafiadoras ou mesmo difíceis que a escola e a vida impõem aos nossos filhos, agimos como “Heróis Chapolin”: num rompante, saltamos à frente deles, dispostos a defendê-los, incondicionalmente. Agindo dessa forma, o que conseguimos, de fato, é enfraquecê-los, inviabilizando o seu verdadeiro amadurecimento. Crescem, então, desconhecendo os reais significados de se plantar e colher; viver e escrever a própria história, agir e assumir consequências etc. São sempre poupados de enfrentamentos pessoais. Se há problemas, a culpa deve ser, provavelmente, do “outro”.
É necessário portanto, despertar, enquanto é tempo, e utilizar as nossas “antenas” para detectar o falso herói escondido dentro de nós mesmos. Perceber que nas entrelinhas dos excessivos cuidados com nossos filhos reside a nociva intenção de vivermos a vida deles ou que eles sejam extensão do nosso desejo.
Que deixemos de bancar o super-herói, mesmo que esse seja o Chapolin. Que sejamos, verdadeiramente, gente que forma gente.
Aleluia Heringer Lisboa, Diretora do Colégio Santo Agostinho, Coautora da Proposta Curricular – CBC de Educação Física – Ensino Fundamental e Médio do Estado de Minas Gerais.

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